Seqüestro no Cone Sul
Repercussào internacional

A nível de defesa de direitos humanos, já se havia registrado a manifestação do CBA, Comité Brasileiro pela Anistia, que exigia amplos esclarecimentos à população. Nesse sentido, uma de suas dirigentes afirmava com veemência que:

"É impossível a concretização de anistia e de um estado de direito numa sociedade em que torturadores e assassinos permanecem impunes nos quadros oficiais da repressão."

Logo após, foi o organismo francês conhecido pela sigla CIMADE -- Serviço de Defesa dos Direitos do Homem, órgão ecuménico a serviço dos refugiados, presos políticos e trabalhadores imigrantes do Terceiro Mundo, que enviou carta ao Presidente Geisel solicitando esclarecimentos sobre o seqüestro e afirmando a existência de cumplicidade entre as polícias argentina, uruguaia e brasileira.

Em seguida, o Secretariado Internacional de Juristas pela Anistia no Uruguai-SIJAU comunicou, por telegrama, que enviaria o advogado Jean Louis Weil para tomar contato direto com a realidade dos fatos.

Concomitantemente, a Secretaria de Segurança do Estado expedia extensa nota isentando os policiais gaúchos e acusando Universindo de, quando residia na rua Santo António, utilizar o nome falso de Luís Piqueres de Miguel, bem como de estar vinculado a vasta rede subversiva coordenada de vários locais do território nacional. Tanto, que efetuava gastos de certo vulto, "chegando a pagar pela locação de um apartamento, a importância de Cr$ 4.700,00". Concluía a nota afirmando que uma investigação preliminar havia revelado que nenhum dos funcionários estaduais esteve envolvido no caso do desaparecimento dos uruguaios.

Ouvido pela revista "Veja", também Macksen de Castro, da Polícia Federal, afirmava que a subversão internacional estava ativa no Brasil, e acrescentava: "Estamos pinçando aqui e ali para formar um quadro geral". Comentando, deve-se dizer que, com tantas pinçadas, ele mandou invadir vários apartamentos e prender uma família uruguaia no bairro Cavalhada, em Porto Alegre. Naquela ocasião, a pretexto de formar imagem junto a opinião pública no sentido de ter descoberto uma vasta organização subversiva, capturou uma família chamada Hernandez. E aí terminava toda a subversão! De onde se conclui que não era internacional, nem nacional, nem estadual, mas apenas municipal. E não chegava a ser subversiva, porque foram logo liberados. Por isso, em Brasília, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Felipe Lampreia, demonstrando ser dotado de muita imaginação, afirmava:

-- Pode até ser que os uruguaios resolveram voltar ao seu país, quem é que sabe?

Essa era a tónica das manifestações oficiais que dominavam, embora a imprensa sempre teima demonstrado outra visão do assunto. É o caso do comentário feito pelo "Jornal do Brasil", na coluna "Informe", de 7 de dezembro: "Afinal, o senso comum ensina que se pode violar a soberania de um país. O que não se pode é obrigar seus habitantes a serem estúpidos".

E o JB estava com toda a razão, pois se deveria indagar o motivo por que só após o desaparecimento dos uruguaios tenha sido denunciada a rede subversiva.

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Este libro ha sido editado en Internet el 01sep02 por el Equipo Nizkor y Derechos Human Rights