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Mariano e Hermínio Beck, pai e filho, ambos advogados, em visita a meu escritório, relataram que estando ambos na Galeria do Rosário, foram abordados por um cidadão de baixa estatura, cabelos pretos e barba crescida que lhes informou ter uma cliente cujo irmão era agente do DOPS, estando envolvido no seqüestro. Que, em vista da repercussão que o fato assumira, era grande seu susto. Por ser subalterno do Seclig e meio "gurizão", o Seelig o comandava. Sobressaltado pela denúncia, passou em casa da irmã, solicitou o empréstimo de uma mala de viagem e sumiu.
O Dr. Mariano não conhecia seu informante, mas, pela forma como ele se conduzira ao detalhar os acontecimentos, foi levado a crer que poderia ser também advogado. Guardou parte do nome.
Como considerei o relato muito importante, propus a ambos que investigássemos conjuntamente. Dirigimo-nos à Galeria e, após uma série de perguntas e informações, obtivemos o nome e o endereço. Tratava-se de António Silveira de Castro, cujo escritório se localizava no 21º andar, sala 2109.
O Dr. António estava no escritório, quando chegamos, e prontamente nos atendeu. Confirmou a conversa que mantivera com os advogados que me acompanhavam, mas, mesmo quando insistentemente solicitado, não concordou em nos fornecer o nome de sua cliente. Assim sendo, nada mais havia a fazer, senão lamentar a falta de êxito ... e sair.
No mesmo dia, à tardinha, dei ciência do caso para alguns jornalistas. Minha informação foi em off principalmente porque, em virtude da deliberada ineficiência dos organismos policiais, resolvêramos unir esforços no sentido de esclarecer os fatos. Nessa oportunidade, todavia, nossa cautela não foi suficiente, pois o Renato Pinto da Silva, um dos setoristas do "Jornal do Brasil", desavisado de nosso esquema com refe- rência ao novo personagem, filtrou a notícia para sua agência, que a publicou, prejudicando definitivamente meu relacionamento com o Dr. António.
No dia seguinte, tanto o "Jornal do Brasil" como a "Folha da Tarde" noticiaram a participação do DOPS e do Delegado Seelig, acres- centando que eu já dispunha de provas.
Com isso, as tentativas de identificarmos nosso segundo persona- gem ficaram sustadas. Tínhamos a certeza de sua existência, sabíamos que se assustara, que pedira uma mala emprestada, que se afastara da cidade . . .
Faltava-nos o resto . . .
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